ECONOMIA

Bahia: Laboratório ajuda produtores a exportar limão tahiti para a União Europeia

Léa Cunha - Gov BA
Publicado em 03/08/2024

(Foto: EMBRAPA)

O Departamento de Sanidade Vegetal do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) reconheceu recentemente o Laboratório de Fitopatologia da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) como apto para emitir laudo para verrugose dos citros, doença fúngica que limita o envio de frutos de lima ácida tahiti (mais conhecida como limão tahiti) para a União Europeia (UE) devido à restrição fitossanitária para Elsinoë spp., praga considerada quarentenária, ou seja, inexistente, naquele continente. Apesar de a Bahia não registrar a ocorrência da doença, assim como algumas outras regiões brasileiras, a ausência de um laudo atestando a sanidade dos lotes dificulta a exportação para a UE.

Cerca de 200 amostras de produtores dos estados da Bahia (em especial da região de Cruz das Almas), Sergipe e Minas Gerais já foram beneficiados, desde o início de abril, pela proximidade do laboratório, que emite os laudos no período de um a dez dias, a depender da demanda e da presença ou não dos sintomas nos frutos. A Bahia é o quarto maior estado produtor brasileiro de limão, ficando atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais e Pará, e é responsável por exportar frutos que totalizaram US$ 34 milhões em 2023.







Causada pelo fungo Elsinoë, a verrugose afeta folhas, frutos e brotações em áreas produtoras de citros em todo o mundo. Tem grande importância econômica porque o aspecto da casca, com lesões salientes e crostas grossas, reduz drasticamente a comercialização dos frutos, em especial os destinados à exportação. Alguns sintomas da verrugose são parecidos com os do cancro cítrico, doença bacteriana causada por Xanthomonas citri subsp. citri, também não existente na União Europeia, mas presente em alguns estados brasileiros. A Bahia é área livre do cancro cítrico desde 2017.

De acordo com o pesquisador e fitopatologista Francisco Laranjeira, chefe-geral da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA), do ponto de vista da biologia, as semelhanças com o cancro cítrico acontecem apenas na aparência dos frutos, o que pode causar confusão para leigos. “Verrugose é um fungo; já o cancro é causado por bactéria. O cancro ‘passa’ de um fruto para outro, pois a bactéria pode ficar na caixa e até mesmo na mão de quem pega o fruto. Já um fruto infectado com a verrugose não infecta o sadio, ainda que estejam na mesma caixa. Ele pode até passar esporos, mas não vai ter infecção porque a verrugose só infecta tecidos imaturos”, informa.

Monitoramento
Segundo informações do Observatório da Agricultura Brasileira, o Brasil recebeu, em 2023, US$ 139,3 milhões com a venda de frutos de lima ácida, de acordo com dados provenientes dos bancos do Sistema de Estatísticas de Comércio Exterior do Agronegócio (AgroStat) e do Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex). De acordo com a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), juntos, limões e limas, são a quarta fruta exportada pelo País, atrás de mangas, melões e uvas.



O auditor fiscal agropecuário Caio César Simão, chefe da Divisão de Programas Especiais de Exportação do Mapa, confirma que, em relação às exportações de lima para a União Europeia, a grande preocupação do órgão sempre foi o cancro cítrico. “Mas, de 2021 para cá, eles começaram a interceptar muitos envios brasileiros com verrugose, que é uma praga quarentenária, ou seja, ausente lá. Nós, pesquisadores, fiscais e produtores brasileiros, sempre tivemos muita dificuldade em encontrar esses sintomas de verrugose porque não é um problema na lima ácida. Então, começamos a realizar um monitoramento dos campos, um controle nosso maior, com apoio da Embrapa, com o objetivo de facilitar e manter a exportação”, explica.



De janeiro a maio passado, 60 contêineres de lima ácida provenientes do Brasil foram devolvidos pelas alfândegas da União Europeia. “Isso pode não ser tão prejudicial para o produtor individualmente, mas é muito ruim para o Brasil. Em outras oportunidades, os mercados de cítricos da Argentina e da África do Sul já foram fechados. Por um problema parecido, a pinta preta, a nossa exportação de frutos de laranja para a Europa também acabou. Hoje só exportamos suco”, recorda Simão.

No caso específico da Bahia, de acordo com dados do Mapa, os rechaços de cargas oriundas do estado pela presença de Elsinoë spp. têm aumentado nos últimos anos, de três em 2022, para sete em 2023 e dez até junho de 2024. “O aumento de interceptações não significa um aumento do problema na Bahia, mas um maior rigor da Europa em relação à detecção da praga”, observa o pesquisador.

O laudo para verrugose passou, então, a ser obrigatório. “É uma medida que o Mapa adotou para garantir a conformidade dos envios e não foi uma exigência da União Europeia. A Europa não tem verrugose e não quer ter. Então, precisamos realizar um monitoramento para que o produtor possa aprimorar as práticas, a seleção e a amostragem”, esclarece o representante do ministério.